Meu desejo é te ver por entre a sombra de uma persiana, chegando da exaustão de um dia tênue.
Te ver tirando os sapatos e os jogando pra longe, como se não fosse mais útil. Nunca mais.
Te sentir me entrelaçando nas pernas, a rispidez suave de uma pele quente. Cheirar seus cabelos e respirar fundo no perfume que se quebra pelo atrito de meus dedos.
Quero te ver contra a luz de uma lâmpada da rua, enquanto todos dormem, ou então quebrando o Sol com o rosto de quem acabara de acordar.
Quero beijar seus olhos para que a frieza de meus lábios te acalmem o olhar e que volte a enxergar o mundo como sempre viu. Como sempre me viu. Como sempre te vi.
A palma de minhas mãos nos seus joelhos e a saliva de minha língua explorando seu antebraço. Quero ser o lençol que nos envolve no conforto de uma noite intuitiva e com cheiro de lavanda.
Poder desbravar as irrigações de seus olhos e espiar no fundo de um universo de acalanto e fantasia. O atrito de deslizar pelo seu corpo e o estopim de um fogo brando.
Quero te ver por entre a fumaça do chá quente, que contorna as formas de seu rosto num soprar leve e aveludado. Te ver suar e escorrer vontades e segredos.
Quero poder acordar no meio da noite e ver que tudo aquilo ainda está lá. Toda minha felicidade construída num ser único e totalmente crível.
Mas principalmente, quero que tudo isso seja devagar. Gradativo. Algo entre a calmaria do azul e a explosão do vermelho. Quero que seja tudo como o adormecer do cansaço ou amanhecer de um sonho.
Quero abrir as janelas e te ver entrar. Quero sair pela porta e te esbarrar. Quero pisar do lado de fora e te ouvir respirar.
Venha, mesmo que ofegante.
Estou te esperando, já fiz o jantar.
E não se esqueça de tirar os sapatos…
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